Indivíduos com instabilidade emocional, psíquica ou transtornos de personalidade também se tornam mais vulneráveis ao alcoolismo. Nesse sentido, ainda que pequena, a influência genética pode ser potencializada por esses fatores de risco e facilitar o desenvolvimento da dependência alcoólica.
A análise é de um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da FMUSP com mais de cinco mil moradores da região metropolitana de São Paulo. "Pessoas que sofrem com transtornos de personalidade adquirem ao longo da vida alguns padrões de comportamentos disfuncionais que acabam interferindo em suas relações com a vida e com o outro, trazendo-lhes muito sofrimento", explica ao Jornal da USP Carolina Hanna de Aquino Chaim, médica psiquiátrica do IPq e uma das pesquisadoras envolvidas nas análises dos dados. O transtorno envolve a presença de variados sintomas comportamentais patológicos, como instabilidade emocional, tendência a relacionamentos interpessoais complicados, excentricidade, necessidade de chamar atenção, dificuldade em ter empatia e seguir condutas sociais, relata o estudo.
"A compreensão de fatores comportamentais associados ao consumo e à dependência do álcool contribui para direcionar abordagens terapêuticas e traçar estratégias mais específicas de prevenção e intervenção direcionadas para essa população". Os dados estão no artigo Alcohol use patterns and disorders among individuals with personality disorders in the Sao Paulo Metropolitan Area, publicado em março na revista científica PLOS ONE, a partir da pesquisa de amostragem sobre saúde mental na região metropolitana de São Paulo, feita entre 2005 e 2007, por um grupo de instituições nacionais e estrangeiras, em uma iniciativa da OMS.
Segundo Carolina, é importante ressaltar que, apesar da dependência do álcool ser mais comumente presente em pessoas com algum transtorno mental prévio, todo indivíduo pode desenvolver a dependência se o consumo começar a ser prioritário e gerar problemas de saúde mental ou física, ou de relacionamentos.
Muitos estudos mostram que não existe um nível seguro de consumo de álcool e este deve ter evitado especialmente em populações de risco, como crianças e adolescentes, grávidas, ou pessoas com outras doenças clínicas e/ou psiquiátricas que possam ter a evolução agravada pelo álcool.
• Afetividade Negativa(um risco patológico)
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID) e o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5), os sintomas dessa patologia[transtornos basais de afetividade negativa] estão subdivididos em três grupos, “clusters A, B e C” (veja quadro abaixo). As pessoas cujos sintomas fazem parte do cluster B foram as que mais pontuaram (70%) na pesquisa para dependência ou abuso de álcool, relata o artigo.
Segundo Carolina, “a afetividade negativa é um solo fértil para dependências de drogas e jogos”, exemplifica. “Quem sofre com esse problema tem uma tendência em beber na busca de um prazer imediato e para fugir/compensar o vazio. Passado o efeito da substância, o desconforto persiste e a pessoa recai no afeto negativo, o que a leva a buscar novamente a intoxicação”, diz. Classificação de Transtornos de Personalidades de acordo com DSM-5 – Clusters A, B e C
• O que é o alcoolismo?
O alcoolismo está classificado entre as doenças crônicas mais preocupantes e que mais desafiam a saúde pública. Quem enfrenta a dependência do álcool tem problemas ligados a diversas áreas da vida. No âmbito familiar, no afetivo e no profissional, o alcoolismo representa dificuldades que envolvem questões ligadas ao comportamento e à saúde mental.
Um dos problemas que mais contribuem para o alcoolismo é que o consumo desse tipo de bebida é socialmente aceitável. Contextualmente, fica mais difícil estabelecer um limite entre o uso casual e a dependência. O exemplo de familiares e de amigos também é um fator determinante e que pode influenciar a decisão de começar a beber cada vez mais cedo.
O vício em álcool também gera prejuízos nas relações sociais e no que se refere ao impacto relacionado ao absenteísmo. A pessoa que se torna dependente de bebida alcoólica está mais propensa a se ausentar do trabalho e a se envolver em conflitos familiares. Isso compromete a estabilidade profissional e a torna mais vulnerável ao desemprego e à pobreza, entre outras questões de ordem social.
• Como procurar ajuda?
Uma das características que mais dificultam resolver questões ligadas ao alcoolismo é a negação da existência do problema por parte do usuário. O primeiro passo para buscar ajuda é o reconhecimento de que o consumo abusivo de bebidas alcoólicas exige um suporte profissional.
Se você está passando por esse problema, o ideal é procurar uma instituição experiente no ramo de tratamento para superar os sintomas da desintoxicação causados pela dependência alcoólica — como o Hospital Santa Mônica. Nosso hospital disponibiliza uma infraestrutura adequada e uma equipe multidisciplinar composta por profissionais especializados nesse ramo.
É possível encontrar um caminho para minimizar as dificuldades relacionadas à problemática do álcool. Que o alcoolismo é genético é fato, mas a intervenção terapêutica adequada pode reverter o quadro e ajudar o indivíduo a recuperar a saúde mental, o bem-estar e retornar ao convívio familiar e coletivo.
Espero ter trazido aqui esclarecimento relevantes a dúvidas, bem comuns, sobre esse tema. Caso precise de ajuda, entre em contato conosco, especialmente se você for um familiar precisando de suporte psico-emocional.
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